Atentado em Ancara: Razões para recear o pior
Até
ao momento, não foi reivindicada a autoria do atentado desta tarde em Ancara,
capital da Turquia, que causou pelo menos 28 mortos e seis dezenas de feridos,
segundo a imprensa internacional.
Seja
de quem for a autoria da operação, que visou alvos militares (autocarros com
elementos, talvez oficiais, do Exército turco), a ocorrência é especialmente
grave no contexto da semana em curso.
Não
obstante os esforços internacionais e da ONU com vista a uma trégua na Síria
que permita a passagem de ajuda humanitária a zonas sitiadas nos vários,
diversificados e complexos teatros de operações, a Turquia encetou uma escalada
de violência e prepara com a Arábia Saudita uma ofensiva que pode degenerar
numa guerra em larga escala.
Ancara
assume mesmo que pretende uma invasão da Síria, pelo que tem apelado aos seus
aliados – incluindo os Estados Unidos da América e a NATO – para que avancem
com uma intervenção terrestre na Síria.
Os
objectivos são muito claros – e a Turquia nem se dá ao trabalho de polir as
suas pretensões com a linguagem de chancelaria: acabar com o governo sírio e as
forças curdas na região curda da Síria, embora declare que também pretende
atacar o autodenominado Estado Islâmico.
Os
EUA declararam que não apoiam a pretensão de uma ofensiva terrestre e Ancara
reagiu dizendo que nada fará que contrarie os seus aliados. Mas ainda ontem foi
avançando que não pode garantir que nada acontecerá nos próximos dez dias (cito
de memória).
O
atentado de hoje só vem complicar ainda mais a situação extremamente delicada e
complexa na região. E há razões suficientes para recear que o incidente possa
ser um pretexto – e o pretexto decisivo – para a escalada militarista pela qual
a Turquia tanto e tão descaradamente anseia.