Três notas na noite eleitoral
1.
Já não restam quaisquer dúvidas de que Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) ganhou as
eleições e de que será o novo Presidente da República a partir de 9 de Março (e
não “a partir de hoje”, como escutei esta noite de vários jornalistas).
MRS
tem certamente méritos pessoais e políticos (era o que faltava, para quem tem a
carreira que tem e ocupou os lugares que ocupou!), mas é manifesto que ele é uma
poderosa construção mediática ao longo de décadas de exposição.
É
igualmente manifesto que MRS capitalizou a simpatia – e mesmo o tratamento
francamente favorável – que a comunicação social lhe dedica e que não regateou
nesta campanha, nem mesmo hoje, com direito a um longo directo nos telejornais
da hora de almoço.
Só
a campanha eleitoral, as encenações para os Media e a imensa futilidade das
inúmeras cenas “de propaganda” repercutidas nos órgãos de informação dariam uma
biblioteca enorme de estudos e de teses sobre a relação dos Media com uma das
mais eficazes das figuras – simultaneamente criador e criatura.
2.
Apesar da simpatia que irradia, da força do carácter que o distingue, da
coragem que o anima, da enorme generosidade e abnegação com que sempre se entrega às causas dos pobres e dos explorados e da riqueza da mensagem e do projecto que transportou
nesta campanha, bem como da extraordinária importância dos temas que trouxe a
debate – alguns deles tabu para as outras candidaturas –, Edgar Silva não logrou
um resultado justo.
Edgar Silva
Edgar Silva
Por
muito que pareça “cassete”, o resultado eleitoral de Edgar Silva é indissociável
do recorrente preconceito em relação ao PCP, que o apoiou e que foi aliás – e muito
bem – o seu certificado de garantia, preconceito esse que permanece na
sociedade e que se reflecte nos Media e é alimentado pelos Media.
Os
números também parecem indiciar que uma fatia apreciável do eleitoral natural
de Edgar Silva terá cedido à tentação de fazer já uma escolha potencialmente
ganhadora, na esperança de que Sampaio da Nóvoa à primeira volta um resultado
que o projectasse com mais força na segunda, se não fosse possível conseguir a
eleição hoje.
3.
Do resultado obtido não se pode extrair, porém, qualquer consequência
designadamente quanto ao peso específico do PCP e do PEV, quer no quadro
parlamentar quer ao nível da sua influência no mundo laboral, cultural e cívico
– ontem como hoje, amanhã e sempre.
Pelo
contrário, os trabalhadores e o povo sabem com quem podem contar – sempre, e
especialmente nos momentos mais duros e difíceis.