Do desmérito do exame da 4.ª classe



Estou a pensar na discussão, muitas vezes mal informada, que por estes dias continua a fazer-se sobre o fim dos exames, designadamente no final do quarto ano de escolaridade.
Penso sobretudo no rol de argumentos que vão da mais cega meritomania à pueril nostalgia. Alguns falam do seu exame da quarta classe como um dos feitos mais importantes e marcantes das suas vidas.
Trata-se, de facto, um marco de fronteira na vida da maior parte das crianças da época - e do longo período - em que tal exame separava os alunos pobres, que cessavam por ali o seu "percurso escolar" e iam servir de moços da argamassa na construção civil ou de aprendizes nas fábricas, dos alunos pelo menos com pais com condições para os encaminhar para as escolas industriais e comerciais ou para os liceus.
Não tenho a certeza de que a maioria que se quedou pela quarta classe teve direito sequer à nostalgia de uma caneta de tinta permanente nova para, na prova escrita do exame, verter em disciplinada caligrafia alguma gota de esperança ou deixar um traço mais vincado de revolta.


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