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A mostrar mensagens de novembro, 2015

Três entrevistas para reter

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Neste fim-de-semana, publicaram-se três entrevistas muito relevantes. No sábado, do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, ao “Expresso”; e hoje, do candidato a Presidente da República Edgar Silva, ao “Jornal de Notícias”, e do secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, ao “Público”. De comum, além da circunstância de os três entrevistados serem militantes e dirigentes do Partido Comunista Português, ou seguramente por isso, o esforço que os três jornais empenharam em escrutinar o chamado acordo da Esquerda, e em particular o alcance e a durabilidade da posição comum entre o PCP e o PS; assim como o teste à identidade e autonomia do PCP e… da CGTP. Da primeira, ressalta, mais uma vez, (i) que ficou claro que o PCP não abdicou do seu ideal, do seu projecto e do seu programa; (ii) que o compromisso assumido resulta do empenho do PCP em alternativas de esquerda, com ou sem responsabilidades governativas, e de uma negociação sem reservas mentais, naturalmente não isenta de dú

XXI Governo: sobre o discurso de António Costa

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António Costa no discurso de posse (Foto: Presidência da República) António Costa fez um bom discurso de tomada de posse. Descontada esta ou aquela discordância que possamos ter, teve densidade política e disse o que tinha de ser dito. Do que disse de significativo, destaca-se desde logo que o Governo empossado emana do Parlamento, reconhecendo a soberania ao voto popular e respeitando o “sentido claro da votação”. Mais: “O Governo provém da Assembleia da República - e é perante a Assembleia que responde politicamente”. Do que disse, sublinha-se a ruptura com a tradição da alternância sem alternativa: “A democracia portuguesa ficou demasiado tempo refém de exclusões de facto, que limitavam o leque de soluções políticas possíveis e defraudavam o sentido do voto de boa parte dos nossos concidadãos”. Como “este Governo nasceu da recusa da ideia de que não haveria alternativa à política que vem sendo prosseguida”, do que se espera agora é que “assuma como sua linha de orientaçã

XXI Governo: sobre o discurso de Cavaco Silva

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Cavaco Silva no discurso de posse do XXI Governo Constitucional (foto: Presidência da República) Cavaco Silva só não dissolveu a Assembleia da República para tentar outros resultados do voto popular porque o Presidente da República já não pode fazê-lo. Cavaco Silva não se conforma com o facto de, do voto popular e do entendimento entre quatro partidos ter resultado uma correlação de forças nova, mas o Presidente da República teve de conformar-se com a evidência constitucional da legitimidade da nomeação que se impunha. Cavaco Silva ouviu personalidades e instituições, recolheu informações relevantes e as consignas para um comando sobre o conteúdo da acção governativa que o Presidente da República não tem. Cavaco Silva não gosta das “posições conjuntas” – como fez questão de grafar entre aspas – entre o PS e o BE, o PCP e o PEV, mantendo as dúvidas mais raras que se lhe conhecem, mas tem a certeza de que o Presidente da República deve conferir “às forças envolvidas a responsa

O 25 de Novembro a Norte

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Ocorreu-me um dia que, se tivesse de mudar de ofício, me seria muito agradável e gratificante tornar-me guardador de estátuas. Pensava, então, nas estátuas e bustos que conferem dimensão tangível à memória do mérito cultural, da generosidade cívica, da abnegação fraterna e do sacrifício sem limites, até da própria vida. Sem grande esforço, poderia sugerir uma representativa galeria de obras que nos transportam muito para além do recorte físico e da textura dos materiais e nos conduzem ao significado das vidas e das personalidades perpetuado no espaço público. Bem entendido, só poderia ser um guardador de estátuas virtuosas, e não das que atravessaram a noite de outros tempos, ou das que, pela calada da indiferença e da nossa desatenção, foram sendo plantadas de mansinho em praças e jardins, num cínico ajuste de contas, com beneplácito autárquico e condescendente branqueamento. E muito menos das que, representando personagens de sinistra memória, em teimosia revanchista

Paris, 13.11.2015. E depois

Comandos do auto-proclamado Estado Islâmico (EI), segundo reivindicou este algumas horas depois, efectuaram ontem à noite seis ataques - ou sete, não há certezas - em Paris, através de fuzilarias indiscriminadas e bombas. Balanço oficial a esta hora: pelo menos 129 mortos e 353 feridos, quase meia centena dos quais em estado grave. Oito autores morreram, na maioria fazendo-se explodir. A condenação é, evidentemente, generalizada - do secretário-geral da Organização das Nações Unidas às organizações políticas portuguesas, do presidente Obama aos candidatos presidenciais portugueses - e a consternação geral parece genuína. A avaliação das causas, do contexto e das contradições é que divergem. E elas estão no cerne das questões centrais, que são: (i) como combatê-las e (ii) como conter este crescendo de violência. Os comentadores presumivelmente especialistas nestes assuntos mostraram a sua perplexidade por tal acontecer numa cidade em elevado estado de alerta e enunciam dúvidas

"Dívida pública, Tratado Orçamental e Euro - Inevitabilidade ou constrangimento?"

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Num momento em que, diariamente, se discute a Dívida Pública, o Tratado Orçamental e o Euro impõe-se fazer uma discussão sobre estes temas: o que são, o que significam para o país e para os(as) portugueses(as), serão inevitabilidades ou constragimentos ? É com este mote que a Comissão Promotora do Apelo «Em defesa de um Portugal soberano e desenvolvido» realiza esta Conferência e convida o Professor João Ferreira do Amaral, Carlos Carvalhas e o Professor João Rodrigues como oradores. A Conferência funcionará por painéis: 1º Painel - «Dívida Pública - inevitabilidade ou constragimento?», com o Professor João Rodrigues. 2º Painel - «Tratado Orçamental - inevitabilidade ou constragimento?», com o Dr. Carlos Carvalhas (economista). 3º Painel - «Euro - inevitabilidade ou constragimento?», com o Professor João Ferreira do Amaral A participação nesta Conferência não necessita de inscrição prévia, a entrada é livre e terá início às 15 horas, do dia 21 de Novembro (sábado), no anfiteatro (bl

Um dia histórico

Ao contrário de simplificações abundantes nos media , dando conta da brevidade do XX Governo Constitucional e de que virá a ter iniciativa de Governo um partido que não ganhou as eleições legislativas, este dia é histórico porque afirma que, contra todas as convenções e conveniências, a soberania popular reside na Assembleia da República e que o Governo resulta da correlação de forças parlamentares. Este dia é também histórico porque o Parlamento encetou os primeiros passos rumo à concretização de uma aspiração legítima da maioria dos eleitores que rejeita o governo e as políticas de Direita e deu sinais claros, inequívocos e indeclináveis de que pretende uma alternativa de Esquerda. Nas suas múltiplas formas, frentes e meios de expressão, a Direita brande ameaças e perigos, convocando em seu auxílio todos os esqueletos ideológicos que guardara zelosamente nos seus armários e atiçando os seus mastins - em oratória parlamentar raivosa, em histeria "popular" nas ruas e

Talvez fosse bom esperar um pouco mais

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Diz-se que estão a chegar ao fim as negociações para o acordo que torne possível um rumo alternativo ao percurso de desastre económico e social. Os democratas só podem desejar que seja o mais frutuoso. E nem todos fazem questão quanto à forma que há-de revestir. A substância política e a criação de condições que tornem consequentes os anúncios de vontade e confiram eficácia à nova correlação de forças, valorizando as oportunidades de convergência e a necessidade de unidade nos momentos e nas iniciativas em que esta seja necessária é que são importantes. A direita oficial e a direita do PS, assim como os respectivos megafones no aparelho de comunicação social, andam muito nervosos e insistem em soltar toda a vasta corte de demónios que guardam nos armários. Lá vêm, uma e outra vez, as agências de notação financeira, as “instituições internacionais”, os editorialistas e os analistas brandir receios. E uma centena de patrões subscreveu um manifesto contra os riscos da instabilid

Sobre o jornalismo, a memória e o resto

Tomo a liberdade de transcrever um belo texto de César Príncipe, no almoço de confraternização do III Encontro Gerações do "Jornal de Notícias": SOBRE O RUÍDO DE FUNDO             Entrei nas páginas dos diários em 1960 (Diário de Lisboa/Suplemento Juvenil). Um latino socorrer-se-ia da vulgata In illo tempore . Um português do vulgo coçaria a cabeça: Foda-se! Há que tempos! Um coronel do Antigo Regime interpelaria uma ordenança do Novo Regime: O gajo resistiu ao lápis? Ainda escreve? Não o tenho visto. Nem sequer na Necrologia. Vos digo: não fujo ao In illo na construção do presente. Arreigadamente. Serenamente. Com eterna nostalgia e fraterna rebelião. Numa fortaleza fixa (de papel), extensão da fortaleza móvel (cibernáutica). Sou um combatente todo-o-terreno. À superfície da Terra. Sê-lo-ei debaixo da terra. Há que tempos! Entrei nas páginas dos jornais quando as máquinas de escrever falavam. Na altura, além dos animais, também os jornalistas falavam. Além