As matanças nos EUA e a protecção constitucional da violência

Ao pensar nos 14 mortos da fuzilaria de ontem em São Bernardino e no facto - enfatizam as agências internacionais - de se registar de um ataque armado por dia, em média, não posso deixar de pensar nos que tanto gabam a modernidade e a democracia norte-americana e a agilidade e simplicidade da Constituição dos EUA, ao mesmo tempo que criticam a vetustez e a complexidade da Constituição portuguesa, aprovada em 1976.
Ocorreu-me isto ou ouvir, hoje, pela enésima-não-sei-quantos vez o presidente dos EUA, Barack Obama, clamar a necessidade de mudar a lei das armas, tão sério é o problema da violência (e nos EUA há uma cultura da violência, como bem observava numa rádio um psicólogo forense, se não me engano).
Numa expressão bem clara e tão inteligível para todos, Obama disse esta coisa tão simples (cito de memória): "Nós temos uma lista de pessoas que não podem entrar num avião, mas qualquer pessoa pode comprar armas nos EUA".
Dá-se o caso de o governo e o Congresso norte-americanos estarem reféns do poderoso lóbi das armas e de uma medida legislativa tão simples em Portugal e em qualquer país europeu, como seria a de proibir ou restringir seriamente a venda de armas, ser afinal uma tarefa homérica na modernaça América.
É que em causa está uma emenda - a 2.ª - à Constituição dos EUA aprovada em 1789 (!!!) que garante o direito a qualquer cidadão adquirir e ser portador de armas. E qualquer alteração constitucional carece de aprovação não só pela maioria qualificada de dois terços das duas câmaras do Congresso, mas também da decisão de três quartos dos estados norte-americanos, isto é, 38.
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