Paris, 13.11.2015. E depois

Comandos do auto-proclamado Estado Islâmico (EI), segundo reivindicou este algumas horas depois, efectuaram ontem à noite seis ataques - ou sete, não há certezas - em Paris, através de fuzilarias indiscriminadas e bombas. Balanço oficial a esta hora: pelo menos 129 mortos e 353 feridos, quase meia centena dos quais em estado grave. Oito autores morreram, na maioria fazendo-se explodir.
A condenação é, evidentemente, generalizada - do secretário-geral da Organização das Nações Unidas às organizações políticas portuguesas, do presidente Obama aos candidatos presidenciais portugueses - e a consternação geral parece genuína. A avaliação das causas, do contexto e das contradições é que divergem. E elas estão no cerne das questões centrais, que são: (i) como combatê-las e (ii) como conter este crescendo de violência.
Os comentadores presumivelmente especialistas nestes assuntos mostraram a sua perplexidade por tal acontecer numa cidade em elevado estado de alerta e enunciam dúvidas quanto às garantias de segurança doravante.
Dos comentários e análises emerge, porém, um discurso securitário e prenunciador de restrições aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, incluindo o patrulhamento e a devassa das comunicações electrónicas, justificando pela ameaça terrorista, ao mesmo tempo que se receia o recrudescimento da xenofobia - irracional por definição - e o endurecimento do discurso e das práticas nomeadamente contra os refugiados e, em geral, os imigrantes.
Já se sabe: más medidas tomam-se muitas vezes por bons motivos. E o que se teme é um cortejo de patifarias em nome da segurança, quando devemos exigir acções concretas para a construção de uma paz justa.
Os acontecimentos de ontem à noite em Paris, condenáveis a todos os títulos, apontam a urgência de uma conferência internacional que analise as causas dos terrorismos e ponha sinceramente em xeque os interesses que lhes estão subjacentes - em particular os dos complexos industriais-militares. Mas, sobretudo, a necessidade imperiosa de sinais e de gestos sinceros de paz consequentes e de convívio fraterno entre os povos. 
O mais é retórica de ocasião. 
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