O que diz e como o diz o pivô


Por lamentável dose de inépcia que ainda mantenho no manejo do “Facebook”, apaguei, há poucas horas, no meu perfil pessoal, um comentário que fizera, ao início da tarde, à notícia que tem dado brado nas redes sociais, relativa à forma como José Rodrigues dos Santos lançou uma peça no “Telejornal” de quarta-feira sobre o eleito deputado mais velho, comentário esse que eu pretendia editar, actualizando-o.
Nele, escrevi (recupero de memória) que não resistia a comentar o incidente deste modo: um jornalista que se gaba de ser tão independente (politicamente) que nem sequer vota descaíra para uma graçola homofóbica e de péssimo gosto que é, em sim mesma, um acto profundamente político.
Tendo lido as justificações dadas pelo próprio ao JN, as explicações da Direcção de Informação da RTP e algumas achegas para o aceso debate nas redes sociais sobre o tema, e tendo também revisto com cuidado, várias vezes, o momento – infeliz? – objecto das críticas, aguardei o anunciado texto de esclarecimento do pivô para ser lido no Telejornal.
Afazeres profissionais impediram-me de vê-lo em directo, mas a tecnologia auxiliou-me na recuperação da prometida dilucidação. Amparei-me no sofá, busquei nas gravações automáticas da minha assinatura de televisão por cabo, pus o Telejornal a correr, até que, aos 22 minutos, o dito pivô debita estas palavras:
“Espaço ainda para uma correcção que a RTP faz sempre que erra. No Telejornal de ontem, referi, por equívoco, que o deputado mais velho do Parlamento era uma mulher, por pensar que se tratava de Domicília Costa, deputada de 69 anos, do Bloco de Esquerda. Na verdade, o deputado mais velho é Alexandre Quintanilha, do PS. A reportagem de imediato desfez o equívoco ao restabelecer a verdade. De qualquer modo, as devidas desculpas são endereçadas aos dois deputados.”
Tirando as pequenas faltas de rigor, como referir-se aos meros eleitos como “deputados”, o facto é que:
a) Permanece por explicar aquilo que foi ouvido e interpretado por muita gente como tirada homofóbica, quando talvez bastasse repetir, em linguagem inteligível para o comum dos telespectadores, o que dissera ao JN; eb) Não se compreende por que razão conclui dizendo, de forma quase enfática, que “as devidas desculpas são endereçadas aos dois deputados”, pois é manifesto que o elemento gerador de polémica se centra exclusivamente em Alexandre Quintanilha e a ele, sim, é que eram devidas desculpas.
Se receei, durante a tarde, ter-me precipitado no juízo e andei acabrunhado por uma espécie de remorso por poder ter sido injusto no comentário, visto e revisto o caso e o “esclarecimento” fiquei com a desagradável sensação de que, afinal, a emenda saiu um pouco pior do que o soneto. Sinceramente, gostaria de uma justificação clara e convincente.
Assim como fiquei a remoer as explicações dadas para o incidente, segundo as quais um pivô não conhece as peças que vai lançar, limitando-se, acrescenta JRS, a redigir os textos que vai dizer com base nas propostas que os repórteres lhes enviam. 
Não seria melhor a RTP rever esses procedimentos? Cá por coisas…

Aditamento: "Quintanilha diz que RTP não pediu desculpa"

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