Obrigado, António; obrigado, Ivete

Foto, com a devida vénia, de NILUFER DEMIR/REUTERS/DHA


Comentador frequente dos temas económicos na RTP, o jornalista António Peres Metelo, começou a responder ao pivô do “Jornal da Tarde”, que lhe pedia uma apreciação ao folhetim da venda apressada do Novo Banco, com um pedido: Que a RTP passasse mais vezes a imagem daquela criança jazendo inerte na praia, uma imagem tão chocante que talvez despertasse de vez as consciências da Europa.
O apelo do António, naquela voz serena que lhe conhecemos há décadas, mas genuinamente comovida perante a urgência angustiante de um despertar colectivo que tarda, armadilhou-me o exercício de escrúpulo ético que procuro a fazer nos meus actos profissionais. Se eu fosse editor na RTP, emitiria aquela imagem? 
É chocante, sabemos. Mas, tão dramaticamente acariciada pela espuma do mar universal, não pode deixar de produzir no espectador senão a exigência indeclinável de que a Europa e o Mundo encarem de frente o drama pelo qual são responsáveis e pelo qual têm de responder com soluções justas. É bem provável que a emitisse – e talvez até à exaustão.
Agora, vai já numa hora, a Ivete Carneiro, jornalista sensível e hábil sismógrafa dos terramotos do sofrimento humano (recomendo a leitura de “Diário de Uma Gota de Água”, edições Quidnovi, 2011), atira-nos de supetão este título: “É necessário? Não é?”
É, Ivete, mais do que nunca. E não nos questionem sobre os limites éticos na escolha das imagens; ou levam o troco da interpelação brutal que se impõe: Por que deixamos que “isto” acontecesse?

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