O Syriza, as dívidas soberanas e nós

Embevecidos uns, assustados outros, vai por aí uma incontrolável enxurrada de inquirições jornalísticas a dirigentes dos partidos da esquerda portuguesa, tratando de saber o que pensam da solução grega para a austeridade e, especialmente qual é o nível de adesão à teses do recém-vitorioso Syriza sobre a questão da dívida. 
Nalguns casos, parece que pretendem colar nomeadamente o PCP e o BE ao programa da coligação "radical" helénica, por vezes com um entusiasmo pouco informado e até infantil, como se se por cá, e até há mais tempo, não tivessem colocado as coisas nos exactos termos em que devem ser colocados.
Ainda esta noite Jerónimo de Sousa, entrevistado na RTP1, lá conseguiu repetir, pela enésima quinta vez e a muito custo, perante um José Rodrigues dos Santos obcecado pela questão de saber se o novo governo grego consegue o perdão da dívida, qual é o cerne da questão portuguesa.
E o cerne da questão, já Jerónimo e o PCP o repetiram e reduziram a propostas legislativas, é a urgência da renegociação da dívida externa, quanto a prazos, montantes e juros, de modo a não privar a economia real e o país dos recursos indispensáveis para produzir riqueza e poder pagar os encargos que for justo pagar.
E há mais uma questão que é necessário votar a colocar sobre a mesa, agora que o Banco Central Europeu despeja milhões sobre os países, num repentino maná, que tarda quatro ou cinco anos e remete para duas questões fundamentais:
1.ª - Por que razões andou o BCE a emprestar aos bancos a juros de 1%, ou menos, para que estes emprestassem aos estados a 5%, a 6% ou mais, em vez de conceder directamente os empréstimos, ao mesmo juro, aos países que deles necessitavam?
2.ª - Quem garante que o aguaceiro financeiro não vai encher apenas os reservatórios da banca e não chega nem à economia real nem às famílias?
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