A competitividade destrutiva

A notícia de que Portugal subiu 15 posições numa coisa sinistra chamada Índice Global de Competitividade deixou eufóricos, mas muito cínicos, quantos acham que é necessário sacrificar mais ainda as vítimas do costume para encher ainda muito mais a pança dos do costume.
A notícia do "Público" explica que o Forum Económico Mundial, que elabora o índice cruzando resultados de inquéritos a executivos (quem é que havia de ser?!) com estatísticas oficiais, dá-se por muito satisfeito com o "ambicioso programa de reforma" do país, cujo "mercado laboral mostra um aumento de flexibilidade, apesar de ainda continuar muito por fazer", pois "é preciso aumentar ainda mais a flexibilidade laboral".
Esta manhã, o programa "Antena Aberta", da Antena 1, foi dedicado a este assunto. A abrir, o director do "Diário Económico" lá teceu as habituais loas às reformas e recitou, muito aplicadinho e pela enésima vez, a receita da urgência da flexibilidade laboral e do corte na despesas que "é preciso fazer".
De seguida, foi dada a palavra a um ouvinte, cujo nome tenho muita pena de não ter retido (Vítor é, de certeza, falta o apelido), que em palavras simples, claras e muito sábias disse o que tem de ser dito com todas as letras e toda a veemência sempre que se pode - e vão sendo raras as oportunidades. 
Por exemplo: que índices destes são feitos tendo em conta os interesses dos investidores e não das pessoas, que nada contam; que boa parte da dívida foi contraída para financiar a banca e não para safisfazer necessidades das populações; que não é possível fazer mais cortes na despesa pública sem acabar de vez com o ensino, a saúde e a segurança social; que o eterno problema é a injusta distribuição da riqueza; e que a obsessão pela competitividade está a ser fatal.
"A competitividade está a destruir as nossas vidas e a destruir o planeta", disse o ouvinte, numa síntese brutal como punhos, recordando que, com tanta riqueza e tanta capacidade de produção, bem poderíamos todos trabalhar mais menos horas e ser mais felizes. Se, quem tem o poder o quisesse, claro...
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