Os jornalistas não são propriedade

Há uma prática que, confesso, me irrita muito: o uso abusivo do possessivo como identificador da relação de trabalho.
Diz-se e escreve-se, por exemplo, com muita frequência: Fulano de Tal, jornalista do "Campanário de Rentes"; ou da Rádio Sineira. Por aí fora... 
Cá por mim, como só vendo a força do meu trabalho à empresa à qual estou vinculado e não sou propriedade de ninguém, prefiro: Fulano de Tal, jornalista no...
Mas, pior, mesmo muito pior, é quando um director (já agora, muitíssimo pior!, um administrador ou um patrão) se refere aos jornalistas que integram a Redacção que ele dirige como "os meus jornalistas".
Podem pensar que é um capricho de semântica dos meus. Não é. 
Especialmente a segunda expressão ("os meus jornalistas") e o abuso - consciente ou inconsciente - dele é uma evidência muito clara de quão grande vai hoje a distância, nalgumas redacções, entre os jornalistas e quem os dirige, mesmo que quem os dirige faça gala em manter uma secretária no meio da Redacção, ou um gabinete de vidro dentro dela.
Esses directores estão hoje mais ao lado dos patrões e até usam cada vez mais o calão patronal do que o jargão do jornalismo. Pode parecer giro e mordernaço, mas inquieta-me. 
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