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A mostrar mensagens de setembro, 2011

Televisão:Um testemunho e uma hipótese

Nas minhas viagens pelo país, há um elemento que me fascina tanto como inquieta – as ruínas de edifícios e estruturas abandonadas, ora pontuando paisagens como chagas pulurentas, ora agigantando-se tragicamente em zonas industriais, ora alastram em impotência em aldeias, vilas e cidades. Ao fascínio estético das leituras da luz, das cores e das sombras, dos desafios da desconstrução e da imaginação, alia-se a interpelação por vezes angustiada da memória: que homens e mulheres povoaram estes agora-destroços, o que se pensou e melhor ou pior se fez, que sonhos se construíram ou se frustraram, que riquezas se produziram ou se desmoronaram, que futuros se não cumpriram, neste chalé escanzelado entre pinheiros-mansos a olhar um mar antigo, nesta fábrica esventrada e chaminé periclitante e teimosamente hasteada, neste sanatório acometido de silvados e desespero, nesta estação de caminho-de-ferro enferrujada e destino único para o passado?... Deu-se o caso, há uma semana, de a RTP2 transmitir

Apelo à participação dos jornalistas nas manifestações de 1 de Outubro

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas apelou hoje à participação dos jornalistas nas manifestações contra o empobrecimento e as injustiças convocadas para o próximo sábado, dia 1 de Outubro, em Lisboa e Porto. .

Este blogue apoia as manifestações de 1 de Outubro

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Televisão: Ver, comentar, criticar, sugerir

Numa das suas participações de ontem, no debate em Rede sobre a RTP que a Fundação Francisco Manuel dos Santos está a realizar , Eduardo Cintra Torres contou ter perguntado, numa das suas turmas de Estudos de Televisão na Universidade Católica, quem costumava ver programas de televisão com outros membros da família, mas que ninguém levantou o braço, a não ser uma jovem (os seus alunos têm entre 19 e 23 anos) para inquirir se “o Natal conta para a resposta...” Considero o episódio interessante e que vale a pena pensar nas conclusões a que Cintra Torres chega. Por mim, já lá escrevi o seguinte:   O episódio singular das aulas de Eduardo Cintra Torres ontem descrito mereceria uma reflexão mais ampla sobre problemáticas que, podendo até ser conexas desta nossa discussão, infelizmente não poderão contribuir para alargar demasiado o âmbito deste debate. Sem querer formular juízos sobre o referido episódio e o seu contexto (social, cultural, económico…), permito-me observar que, quer constitu

O fim da taluda meritocrática escolar

O ministro da Educação bem pode esfalfar-se a explicar que, no lamentável episódio dos cheques-prémio para os melhores alunos das escolas secundárias, houve "um problema de comunicação", pois, argumenta, já no dia 13 de Setembro o ME tinha comunicado às escolas que, afinal, a taluda meritocrática instituída pela penúltima ministra não seria entregue. Mesmo admitindo que algumas escolas se desleixaram e não comunicaram atempadamente (?!) a abolição do cobiçado galardão de 500 euros que deveria ser entregue depois de amanhã, sempre se há-de concordar que mais semana menos semana de aviso não contam para um campeonato que - salvo erro - o presidente da associação de directores de escolas explicou esta manhã (ouvi-o na Antena 2), de forma muito simples e directa, ser o das expectativas dos alunos (legitimamente constituídas há muito) no referido prémio e da credibilidade das instituições. Dito de outro modo: quaisquer que sejam as razões da desistência do ofertante - e já lá irei

O potencial da RTP e o precioso filão nacional por explorar

Tendo-me alongado na participação anterior,  no debate a RTP que o sítio da Fundação Francisco Manuel dos Santos está a promover , não aflorei sequer algumas questões pertinentes tratadas pelos meus ilustres colegas e pelo magnífico moderador deste debate. É o que tento fazer agora. Atalho de imediato para a matéria que parece corresponder a uma urgência do Governo (em rigor, do PSD, mas do Governo por mera solidariedade intra-coligação) que é a privatização de um canal da RTP (e outro da RDP, não esqueçamos), para concordar com Pedro Norton na conclusão de que não há espaço para mais um operador privado de televisão. Mesmo quem não tem acesso às contas mais miúdas das empresas e às tabelas reais de publicidade praticadas pelos operadores de televisão, “percebe-se” quão violenta está sendo a disputa do magro bolo publicitário, não só entre eles, mas também entre o segmento televisão e outros – imprensa em particular. E não é uma questão de mera percepção ao alcance dos cidadãos. Ainda

Sobre a definição de serviço público de televisão

Compreende-se a inquietação dos cidadãos perante a (aparente) inexistência de uma definição de serviço público de televisão, pelo menos tão perceptível, tão tangível e tão mensurável como as relativas a outros serviços públicos. Se usarmos o exemplo dos serviços de águas invocado hoje por Eduardo Cintra Torres, no debate a RTP que o sítio da Fundação Francisco Manuel dos Santos está a promover , fica muito clara para o comum dos cidadãos a relação entre os preços e as taxas que estes pagam e a quantidade e a qualidade do bem que lhe é fornecido – a água de abastecimento – e do serviço que lhe é prestado com a drenagem das águas residuais. No entanto, nem todos têm a preocupação de informar-se sobre dados essenciais à formação de uma cidadania informada e esclarecida, como: (i) os níveis de atendimento, isto é, a percentagem de população servida; (ii) os parâmetros da qualidade da água de abastecimento na rede; (iii) os níveis de tratamento das águas residuais; (iv) a qualidade do meio

RTP: pública ou privada? Pública, obviamente!

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Está a decorrer, até ao dia 10 de Outubro, no sítio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, um debate em linha sobre a privatização da RTP , no qual participo como convidado. O pretexto é o mais recente livro de Eduardo Cintra Torres - "A Televisão e o Serviço Público" - editado na colecção de ensaios da FFMS. O autor é aliás o convidado principal da iniciativa, na qual participa também o administrador do grupo Impresa Pedro Norton. Escuso de esclarecer que a resposta à pergunta "RTP: pública ou privada?" é, obviamente: pública!  .

Já um requiem pelo Poder Local democrático...

O Governo apresentou o seu "Documento Verde da Reforma da Administração Local" , através do qual prepara o fim do Poder Local democrático como o conhecemos, que o Partido Socialista já saudou, segundo as edições em linha dos órgãos de comunicação social (reacção indisponível, às 23 horas, no sítio do PS), enquanto o Partido Comunista Português já condenou  "o livro negro de subversão" . Também aqui o Bloco Central funciona. Por enquanto. Vamos ver o debate que nos está reservado pelo país real fora nos próximos meses...

Recado da senhora Merkel sobre a soberania perdida

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defende sanções para os países que não cumpram os critérios de estabilidade. Entre essas sanções, estaria a perda de soberania. Então já não a tínhamos perdidos? .

Do acto profundamente político do patriarca católico de Lisboa

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Quando o cidadão José da Cruz Policarpo diz, como cardeal patriarca de Lisboa da Igreja Católica, que "o ministério dos bispos é de uma ordem que pode ficar prejudicado se nos metermos na política directa como ela é feita hoje, em que ninguém sai de lá com as mãos limpas" está a praticar um acto profundamente político e não pode ignorar os efeitos desta afirmação.  Quando responde, na entrevista publicada hoje no JN, que não responde à pergunta (de Alexandra Serôdio) sobre se queria comentar as políticas sociais deste Governo, alegando que responder seria "política directa", mas logo acrescenta, referindo-se à intervenção da Tróica, que "o protocolo internacional é para cumprir", está a dar aos cidadãos (católicos ou não) uma indicação muito clara de submissão à intervenção estrangeira. Mas está a ir mais longe, numa posição, profunda e directamente política, que, se não tem essa intenção (lá saberá o prelado o que pretende...), produz o inegável resulta

Uma boa notícia

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O semanário "Expresso" noticia hoje que a Polícia Judiciária apanhou a "toupeira" do Serviço de Informações Estratégias de de Defesa (SIED) na operadora de telecomunicações Optimus que teria vasculhado ilicitamente as comunicações do jornalista Nuno Simas. Para já, é uma boa notícia. Aguardemos...  .

Com falinhas mansas e modos suaves

Com falinhas mansas, sorrisos e modos suaves, um dos mandatários da Tróica e do patronato nas vestes de ministro da Economia bem tem repetido aos jornalistas que a profunda e gravíssima reforma da lei laboral é apenas "uma pequena parte" da grande reforma económica. Porém, a evidência não engana: o que o Governo prepara é a absoluta liberalização dos despedimentos. .

Ora essa!

Afinal, ser funcionário público não é um privilégio. Vem o Tribunal Constitucional dizer (por maioria, com três votos de vencido, com declarações de voto a ler com atenção) que " quem recebe por verbas públicas não está em posição de igualdade com os restantes cidadãos" , já que está vinculado "à prossecução do interesse público"... .

Justiça de classe

Está anunciado: a ministra da Justiça propõe-se perdoar as custas a quem desista do processo em tribunal. Vai escrito sem ponto de exclamação porque, pelos vistos, tendemos a achar normais dislates e violências deste tipo. A medida não é apenas economicista: é profundamente reaccionária e traduz uma atitude muito grave face a um direito fundamental dos cidadãos – o de encontrar a paz jurídica, ou também a paz social, que é o que espera quem demanda ou quem é demandado num tribunal. Trata-se, já se sabia, de um direito cada vez menos ao alcance dos cidadãos, pois a Justiça é cara, muito cara, até para a assim chamada classe média. Basta ver o valor das custas, para não falar dos honorários do advogado. Manter uma querela é um luxo acessível a quem tem muito dinheiro. Pelos vistos, a ministra quer reservar a Justiça para quem o tem. A principal perversidade da anunciada medida está no incentivo à renúncia à Justiça, através de uma figura – a desistência – que deveria fazer arrepiar os pr

Plano de reestruturação da RTP ferido de ilegalidade - acusa SJ

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) acusa a RTP de violar a lei, com a cumplicidade do Governo, por ter excluído a Comissão de Trabalhadores do processo de reestruturação da empresa entregue ao Governo no dia 20. .

Violência estatal num Estado neo-liberal

O paradigma liberal valoriza os direitos individuais e resiste à intervenção estatal - em nome do colectivo esmagador.  Pois bem, com o anúncio de mais uma violência do Governo, em nome do Estado, cuja consiste em alargar o conceito de justa causa de despedimento ao alegado incumprimento de objectivos, sempre gostava de saber onde vai parar a defesa liberal dos direitos individuais - ao trabalho, à dignidade pessoal e profissional, à defesa contra o arbítrio, por aí fora... Em argumentando-se com o cumprimento de objectivos, chamo desde já a atenção para os gravíssimos problemas de saúde pública que se agravarão com esta medida, se ela, por desgraça, passar. Sim, porque a saúde mental dos trabalhadores, quadros dirigentes incluídos - e de que maneira! - é um problema de saúde pública com gravíssimas repercussões na economia (sendo ela o fiel da balança vigente...). Ou seja, escuso de argumentar com os velhos e ressabiados complexos de esquerda, com os direitos dos trabalhadores, etc.,

Júlio Resende (1917-2011)

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Júlio Resende (foto obtida no Lugar do Desenho ) O mestre Júlio Resende morreu hoje, aos 93 anos de idade, na sua casa em Valbom, Gondomar, separada do Douro, o rio da sua cidade - o Porto - e da sua vida, por pouco mais que uma estrada, a estrada que passa quase rente à sua Ribeira Negra (1984). .

Pode uma entrevista ser feita por amigo?

Problema prático de jornalismo, e não só... A entrevista concedida, domingo, pelo ex-presidente do FMI Dominique Strauss-Kahn (DSK) ao canal francês TF1 colocou um problema prático de jornalismo muito interessante: pode um jornalista entrevistar um amigo? O facto de a pivô do serviço noticioso que fez a entrevista, Claire Chazal ser amiga - pelo menos da mulher de DSK, segundo uns; do casal, segundo outros - está a lançar um curioso debate nos media franceses sobre o risco de a proximidade, ou a intimidade, entre entrevistador e entrevistado gerar um conflito de interesses. Um dos aspectos a reter desse debate é a alegação, nomeadamente pelo sociólogo dos media Jean-Marie Charon , de que num órgão de informação anglo-saxónico esse risco seria previamente analisado e evitado. Note-se que a entrevista, a primeira a uma televisão depois da eclosão do afair DSK, durante a qual o ex-"patrão" do FMI parece visar a redenção mediática ("... puso la cara del hombre inocente y p

Direito a defesa

A querela entre o bastonário da Ordem dos Advogados e a ministra da Justiça sobre o pagamento das "oficiosas" é mais preocupante do que parece. É legítimo recear que também neste capítulo o Governo vai cortar a direito contra os do costume e que a consequência gravíssima seja a de tornar ainda mais difícil o acesso à Justiça e que o direito a ser representado por advogado independentemente da condição social e económica é cada vez mais letra morta. .

FW: Cavaleiros da Ordem do Infante Dom Henrique

Com a devida vénia, replico a transcrição de mensagem em correio electrónica que por aí corre: Exmo. Sr. Presidente da República, Dr. Aníbal Cavaco Silva, o meu nome é Catarina Patrício, sou licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, fiz Mestrado em Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sou doutoranda em Ciências da Comunicação também pela FCSH-UNL, projecto de investigação "Dissuasão Visual: Arte, Cinema, Cronopolítica e Guerra em Directo" distinguido com uma bolsa de doutoramento individual da Fundação para a Ciência e Tecnologia. A convite do meu orientador, lecciono uma cadeira numa Universidade. Tenho 30 anos . Não sinto qualquer orgulho na selecção de futebol nacional . Não fiquei tão pouco impressionada... O futebol é o actual opium do povo que a política subrepticiamente procura sempre exponenciar. A atribuição da condecoração de Cavaleiro da Ordem do Infante Dom Henrique a

Afinal, o défice é outro

Sim, há um défice enorme, maior do que o outro e aparentemente mais oculto do que o da Madeira: o de juízo crítico - na sociedade, nos media... .

Sobre a ERC

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Está aqui uma síntese do que disse, ontem, na Comissão para a Ética, Sociedade e Comunicação da Assembleia da República, no âmbito das audições sobre avaliação do modelo de regulação do sector e o primeiro mandato do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. .

Extinguir, fundir, extinguir ou fundir...

Ainda não se sabe exactamente o que o Governo vai fazer, mas parece-me que esta provável demagogia pode sair muito cara à Nação. Espero voltar ao assunto. .

Volta ao mundo de realidade climática

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São 19 horas de 14 de Setembro na Cidade do México, México, 01h00 do dia 15 em Portugal continental. A volta ao Mundo da Realidade climática proposta pelo antigo vice-presidente norte-americano e Nobel da Paz, Al Gore, está a começar.  Até logo, à meia noite em Portugal continental, 19 horas em Nova Iorque, a iniciativa "24 Horas de Realidade" une 24 cidades em 24 zonas horárias com palestras e debates (além de 30 minutos de um novo vídeo de Gore) sobre os efeitos da crise climática sobre a qual há um largo consenso mundial mas uma acção insuficiente no concerto das nações. Há também negacionistas, mas também para eles o debate está aberto . .

Xeque ao peão

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Para que conste. Este automóvel está estacionado a bloquear literalmente um passeio e nem a floreira lhe resistiu. E não, não é o único nestas condições - nem no Hospital de S. João, nem em muitos outros lugares do Porto e do país. A indiferença pelos peões - que somos todos nós, não é?! - é tal que é frequente encontrar placas em zonas de obras pedindo "desculpas aos senhores automobilistas pelo incómodo" e mostrando o maior desprezo pelos que utilizam a via apeados. Desculpem o desabafo, ok?

Frase do dia

"Até admito que consiga acabar com o défice, corremos é o risco de acabar com o país" Jerónimo de Sousa, dirigindo-se ao primeiro-ministro, esta tarde, na Assembleia da República (citado pela TVI em linha) .

Quem rouba também dá esmolas

Uma das notícias do dia anuncia que o "Estado vai gastar 30 milhões de euros" com a tarifa social de electricidade e de gás natural para os mais pobres. A medida ainda não está disponível sob a forma de diploma legal, mas dá para perceber o embuste da coisa. Na verdade, o Estado não vai gastar coisa nenhuma. A coisa explica-se facilmente. A partir de 1 de Outubro, o IVA sobre a electricidade e o gás natural passa de 6% para 23%. Como dizia o outro, é só fazer as contas e concluir que o Governo faz um assalto colossal aos bolsos das famílias. A partir da mesma data, segundo a propaganda governamental, as famílias mais pobres terão um "desconto" de 6% na electricidade e 25% no gás natural.  A pergunta impõe-se, mas não vi ainda resposta (distracção minha!...): esse assim chamado desconto é para aplicar sobre o preço actual daqueles serviços ou sobre o preço brutalmente agravado pelo aumento do IVA? Qualquer que seja a resposta, não vejo, falho de competência como sou

Explicações, procuram-se

Ainda que mal pergunte... O secretário-geral do Partido Socialista mandou dizer que o anúncio, hoje, pelo Partido Social Democrata, de que o principal partido da maioria parlamentar e de governo não apresentará, nesta legislatura, uma proposta de revisão da Constituição, embora abra uma excepção para discutir a inclusão, na Lei Fundamental, de limites ao endividamento externo, é "uma grande vitória" do PS e dele próprio. Alguém conseguirá explicar: a) Por que é que tal anúncio do PSD é uma vitória para o PS? b) Se o PSD não voltará atrás nesta anúncio, como incumpriu outros anúncios e promessas? c) Qual será o comportamento do PS na discussão da "excepção" matreiramente proclamada pelo PSD? Agradecido. .

Sobre a contra-efemeridade da memória

O meu amigo Manuel tem uma forma estranha de ler os jornais: folheia-os, demora-se um pouco sobre aquilo que chama a sua atenção - um título, um lead , uma parte do texto captada de repente, uma legenda; se for o caso, pega no abre-cartas e destaca a página, dobra-a e coloca-a de lado; o que sobra dessa triagem vai direitinho para o saco destinado ao eco-ponto. Ainda hoje lhe perguntei se lerá tudo o que cortou. "Umas coisas sim, porque me interessam já; outras não, porque verificarei realmente não valerão a pena; outras, talvez um dia, se derem jeito", disse-me. E acrescentou: "Há quem pense que os jornais são produtos efémeros, porque já se esqueceu como se reúnem, ligam e interpretam memórias". .

Diversidade informativa

Uma amiga minha estranhou o facto de pelo menos dois acontecimentos de ontem - a audição do ministro da Saúde e a apresentação do chamado fundo de compensação para despedimentos - terem tido enfoques diferentes nos jornais. Respondi-lhe pedindo-lhe que não cedesse à tentação uniformizadora da informação: há demasiada gente a segui-la; e o povo necessita é de diversidade informativa. Como de pão para a boca. .  

Indemnizações na roleta da especulação

Noticiam jornais de hoje que o chamado "fundo de compensação" para ajudar os patrões a despedir mais facilmente e mais barato, além de ser verdadeiramente ridículo, poderá ser aplicado em produtos financeiros de risco. A invenção já era demasiado feia e grave; agora, piorou de vez: com os empregos pendentes da roleta da sorte, ficariam com uma parte da indemnização pendente da roleta da especulação. Depois não digam que não há razões para sair à rua!  .

Orquestra Todos, uma estreia que não é por acaso no dia 11 de Setembro

Agenda, a não perder, dia 11 de Setembro, às 21 horas, no Largo do Intendente, em Lisboa, estreia mundial da Orquestra Todos , composta por músicos profissionais e músicos de rua que vivem em Lisboa originários de múltiplas paisagens. Não é por acaso que acontece no dia 11 de Setembro. É um sonho lisboeta de Mario Tronco , o músico criador de um extraordinário projecto musical de reacção política colectiva imediata às leis xenófobas com que o governo italiano “respondeu” pouco depois aos atentados de há dez anos – a Orquestra da Praça Vitório, composta por músicos de inúmeras paragens, árabes incluídas, que ainda hoje mantém um soberbo programa . Ainda esta manhã o próprio explicava na Antena 2 – serviço público de radiodifusão – como foi importante mostrar que a diferença de outros mundos dentro da nossa praça é uma riqueza, é um bem, e não uma ameaça. Em Lisboa, porta do Mundo, essa mensagem replica-se e há-de frutificar. E ainda: recomendo vivamente o blogue da iniciativa TODOS - C

O peso das palavras em jornalismo

Mais um problema prático do jornalismo, ou um modesto subsídio para uma discussão sobre a independência e a imparcialidade dos jornalistas: Há muitos anos, discutindo-se o problema da imparcialidade dos jornalistas, era inevitável a querela semantico-ideológica em torno de certas opções jornalísticas na construção ( estritamente técnica, logo objectiva... ) de algumas notícias.  Por exemplo: Escrevermos que "a polícia carregou sobre os manifestantes" não é a mesma coisa que escrever "os manifestantes envolveram-se com a polícia".  Outro exemplo, mais subtil mas nem por isso despiciendo, é o das expressões que conferem uma "dimensão" nem por isso objectiva a acontecimentos como as manifestações, comícios, vítimas de certos acontecimentos. Vejamos um caso: se escrevermos mil manifestantes tem a mesma força que um milhar de manifestantes ?  Têm-me ocorrido estes exemplo - e poderia dar muitos mais... - quando leio que a empresa Xis decidiu "descontinua

Um aviso um bocadinho incendiário

O primeiro-ministro declarou hoje(*), solenemente, o seguinte: "Em Portugal, há direito de manifestação, há direito à greve. São direitos que estão consagrados na Constituição e que têm merecido consenso alargado em Portugal", mas "nós não confundiremos o exercício dessas liberdades com aqueles que pensam que podem incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal". Alguém sabe se o primeiro-ministro sabe se vai haver "tumultos" e gente a "incendiar as ruas"? Ou este aviso um bocadinho incendiário quer dizer outra coisa? Agradecido.  (*) Segundo a Lusa, transcrita em edições em linha .

Uma pergunta a Passos Coelho

A convite/desafio do "Público", eis a pergunta que fiz ao primeiro-ministro, dada hoje à estampa: Apesar da extrema gravidade dos factos, quanto à violação das garantias constitucionais de protecção das comunicações dos cidadãos e do sigilo profissional dos jornalistas, autorizará uma eventual recusa de declarações ou depoimento, por elementos do SIED, no âmbito de inquérito judicial à devassa de comunicações do jornalista Nuno Simas ? A pergunta justifica-se pelo enquadramento blindado e pelo poder definitivo (sem possibilidade de recurso) que a Lei Orgânica do Sistema de Informações da República  Portuguesa confere ao primeiro-ministro, permitindo-lhe bloquear qualquer inquérito judicial, mesmo que esteja em crise, como está, a confiança dos cidadãos na capacidade do Estado, nomeadamente através do poder judicial, para velar pela protecção dos direitos dos cidadãos.  Se, como espero, vier a ser encontrado alguém suspeito da prática - directa ou indirectamente, como executa

Últimas da Wikileaks: riscos da volatilidade

Segundo as notícias dos últimos dias, há uma data de gente, em várias partes do Mundo, embaraçada até ao risco de morte com a ameaça da Wikileaks de denunciar as fontes dos seus famigerados telegramas secretos e até a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF)  suspendeu provisoriamente a confiança nela . Para os que supunham que seriam "organizações" como esta a substituir os media "tradicionais", ficará das mais recentes revelações e outras anteriores uma lição essencial: só é possível assegurar - e praticar - a liberdade de imprensa assegurando aos cidadãos, começando pelas fontes confidenciais, no escrupuloso, comprometido e escrutinável respeito por certos deveres indeclináveis. E isso só se pode exigir a jornalistas com rosto e a organizações jornalísticas (empresas) lealmente expostos ao risco de pagar por isso. Coisa que me parece não acontecer com uma entidade volátil, disposta à delação vingativa... .  

Esperança de vida do Governo: aceitam-se apostas

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Nos últimos dias e hoje mesmo, escassos dois meses e pico passados sobre a posse do novo Governo, a Imprensa vai fazendo eco de dúvidas, perguntas, receios, talvez arrependimentos. Será que a esperança de vida da Maioria está em causa? Há quem tivesse vaticinado que não cumpriria a legislatura. E vão sendo demasiado óbvias certas brechas, ameaçando o barco de ir ao fundo. Consta que os corretores começam a aceitar apostas sobre a esperança de vida do dito. .   

Cortes: um inquietante sinal de alarme

Quando alguém, com responsabilidades várias, afirma*:  "Não posso aceitar que haja doentes que se podem salvar mas que vão morrer porque o país está em dificuldades económicas" algum sinal de alarme há-de soar, suponho... *  Maria João Aguiar, coordenadora nacional das Unidades de Colheita de Órgãos, Tecidos e Células para Transplantação, ouvida pela Lusa e transcrita na imprensa em linha, a propósito dos cortes aos incentivos aos transplantes anunciados pelo ministro da Saúde. Entre muitos outros cortes nas áreas sociais   .

SJ repudia mais despedimentos na Global Notícias/Controlinveste

O Sindicato dos Jornalistas repudiou hoje a intenção da empresa Global Notícias de despedir os cinco jornalistas que compõem o quadro redactorial da revista "NS", cuja extinção lamenta. A notícia está aqui .   .

Jornalismo e crianças (2)

Já está disponível no sítio do Sindicato dos Jornalistas um bloco mais completo sobre o seminário de hoje, contendo também as versões integrais do discurso do juiz conselheiro Amando Leandro, presidente da CNPCJR, e a notável conferência de Adelino Gomes, bem como o essencial da apresentação do sub-sítio sobre direitos da criança da autoria de Orlando César, formador do Cenjor e presidente do Conselho Deontológico. Recomendo, claro! .

Jornalismo e crianças

A Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR) concluiu hoje uma série de seminários, iniciada em 3 de Maio de 2007, em parceria com o Instituto de Segurança Social (ISS) e o Sindicato dos Jornalistas (SJ), através dos quais dirigentes de comissões concelhias, juristas, psicólogos, professores, jornalistas e outros cidadãos de profissões, saberes e experiências bem distintos reflectiram em conjunto e partilharam conhecimentos, experiências, dúvidas e anseios sobre a complexa problemática da promoção e defesa dos direitos da criança e do jovem. Tido tido a honra e o proveito de participar activamente em todos os seminários, incluindo com o privilégio do uso da palavra, partilho aqui as palavras que esta manhã disse na sessão de abertura do que, tendo sido o "seminário final" , há-de ser afinal o ponto de partida para novas e mais exigentes etapas: A reunião que estamos a iniciar apresenta-se sob a designação "seminário final", mas não repres

ERC pronuncia-se sobre a espionagem a Nuno Simas

O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) considerou hoje que, "a confirmar-se o que tem sido relatado, a devassa de fontes confidenciais do jornalista Nuno Simas, qualquer que seja a forma que tenha assumido, representa um grave atentado à liberdade de imprensa e aos direitos dos jornalistas, os quais se encontram consignados na Constituição e na Lei". .