O rádio de pilhas do guerrilheiro na consciência de um alferes ranger


Poupou a vida ao guerrilheiro, mas despojou-o das poucas e valiosas coisas que tinha - a liberdade, arma que tinha na mão e que era o símbolo da libertação da pátria pela qual oferecia o seu sangue e... um rádio portátil de pilhas. "No fundo, pilhei o rádio ao homem". Jaime Froufe Andrade*, antigo alferes miliciano de operações especiais (Ranger) em Moçambique, conta o caso de uma "pequena leviandade" - entre "outras patifarias, que as guerras é para o que servem..." - à volta de um rádio portátil que, sobre a sua mesa de trabalho, "materializa a sua consciência pesada". Sonha voltar um dia a Moçambique e encontrar o legítimo dono do rádio de pilhas, dar-lhe "um longo abraço" e devolver-lhe o derradeiro bem rapinado nesse dia longínquo.

*Jaime Froufe Andrade é um jornalista de raro talento e um criador inquieto. Publicou, em 2008, um volume de narrativas vividas na primeira pessoa na guerra colonial - "Não Sabes Como Vais Morrer", numa edição da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.

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