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A mostrar mensagens de julho, 2010

Jangada de Pedra, noutras naves

Mais uma sugestão de navegação: a Jangada de Pedra do André Levy. Por muitas razões, que facilmente se acharão.

O pâncreas de António Feio

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Admirava - e admiro - António Feio. Era um grande actor. Guardo várias memórias inesquecíveis dele. Uma é a sua interpretação soberba (além da encenação) de "O Que Diz Molero" (1999), do  original de Diniz Machado, que evoco com a reprodução de uma foto do seu sítio . Outra é a sua sarcástica tirada, agradecendo um prémio (julgo que os Globos d'Ouro da SIC, mas peço desculpa se me engano), na qual diz - e cito de memória - qualquer coisa como "Agradeço muito ao meu pâncreas, porque graças a ele tenho recebido muitos convites" (lamento muito a minha inépcia, mas não consigo encontrar o vídeo do episódio). Lembro-me de que, na plateia, muita gente riu e ainda hoje a tirada é apontada como um momento de humor. Mas não me lembro de ter ouvido e visto estocada mais séria, mais profunda e penetrante na hipocrisia dos processos de mediatização das chamadas celebridades. O sorriso incomodado - e incómodo - com que proferiu aquelas palavras ficou-me marcado.

Verão Perigoso

"O touro seguinte de Luís Miguel era grande e muito possante. Derrubou o cavalo à primeira investida e os picadores tentaram o melhor que puderam atenuar-lhe a pujança e espírito combativo. Ficou tão maltratado que só lhe colocaram um par de bandarilhas." Breve extracto de uma grande reportagem de Ernest Hemingway ("Verão Perigoso", Livros do Brasil, Lisboa, 2004) sobre o dramático duelo de arenas entre dois célebres toureiros - Antonio Ordóñez e Luís Miguel Dominguin (1959) - e que aqui reproduzo em saudação e homenagem à histórica decisão do parlamento catalão de acabar com as touradas.

Alvíssaras por um exemplar do "ante-projecto de Revisão Constitucional do PSD"

O deputado Luís Campos Ferreira (PSD) publica hoje, no "Jornal de Notícias", um texto de opinião enfadonho e medíocre, polvilhado de lugares-comuns e vazio de ideias, que atrevidamente titula "Defender Abril!" - com ponto de exclamação e tudo... - do qual vale a pena ler apenas o seguinte trecho: "O ante-projecto de Revisão Constitucional do PSD traz ideias diferentes, põe em cima da mesa novos desafios e modelos para construirmos uma sociedade mais justa e solidária, é corajoso e sério porque é inovador e transparente. Está aberto à discussão serena, ao convergir ideias é um contributo pró-activo e positivo. É uma proposta livre e de liberdade, por isso é obrigatório que tenha um contraditório democrático, esclarecido e com substância". Eu apreciaria muito participar na tal "discussão" que o senhor deputado diz estar "aberta", mas talvez fosse melhor S. Exa. e o seu partido publicitarem o tal "ante-projecto", condição que

A Constituição do PSD

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Já agora, eu gostava mesmo era de consultar o anteprojecto de projecto do PSD de revisão da Constituição. Lá tenho continuado a procurar no seu sítio oficial na Internet, mas... nada.

Carga ideológica

O Preâmbulo da Constituição da República Portuguesa é assim: "A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista. Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa. A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país. A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, t

Petição contra privatizações e o ataque à Administração Pública

PETIÇÃO   SOBRE AS PRIVATIZAÇÕES NO SECTOR EMPRESARIAL DO ESTADO E O ATAQUE À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) e o "Plano de Austeridade" incluem um enorme pacote de privatizações, quantificado em 6 mil milhões de euros, o que pode levar à quase liquidação do que resta do Sector Empresarial do Estado (SEE). São abrangidas empresas nos sectores da energia (GALP, REN e EDP), financeiro (BPN e CGD Seguros), transportes (TAP, ANA CP e EMEF) e outras, incluindo os Estaleiros navais de Viana do Castelo. A par destas privatizações, há a intenção de prosseguir o ataque à Administração Pública pondo em causa ou fragilizando a prestação de serviços públicos, nomeadamente com o encerramento de escolas e unidades de prestação de cuidados de saúde. Os signatários estão particularmente preocupados com as consequências a longo prazo que tais medidas poderiam ter considerando os fins de natureza política (subordinação do poder económico ao político), ec

"Desperdício intelectual das jovens trabalhadoras"

Em incontáveis debates, colóquios, mesas-redondas, etc. em que já participei, não me recordo de me terem colocado como desafio para discussão um tema como este: "A precariedade das jovens trabalhadoras: consequências na evolução profissional; desperdício intelectual das jovens licenciadas". E, no entanto, ele encerra tanta coisa!... É hoje às 18 horas, no auditório da Fnac-Porto, na Rua de Santa Catarina, numa iniciativa do Movimento Democrático de Mulheres (MDM).

A Constituição, o PSD, o PS, o PSD e o PS e a Esquerda

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Há momentos, no programa "Quadratura do Círculo", da SIC-Notícias, o dirigente do Partido Socialista António Costa disse mais ou menos isto: que a (trapalhona) proposta de revisão da Constituição da República Portuguesa teve o mérito de unificar (não tenho a certeza de que foi unificar, pareceu-me... , mas se foi unir também importa para o caso) "toda a Esquerda". Calculo que nessa gama tão ampla que parece inferir-se das suas palavras inclua o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista "Os Verdes". Cá por mim, dou por mais certo o que vier a concretizar-se (o outro bem respondia "Prognósticos só no fim", não era?), mas permito-me chamar a atenção para um (porventura ou seguramente?) premonitório título estampado hoje no JN - "PSD acredita que socialistas cederão". Voltaremos ao assunto...

Um vazio de palavra

" Este despedimento colectivo, e o fecho do Rádio Clube, deixa um vazio no espaço radiofónico português. As rádios apostam cada vez mais na música (nas mesmas músicas), e menos na palavra." Palavras de um manifesto dos trabalhadores abrangidos pelo mais recente processo de despedimento colectivo, ainda em curso, processo esse que o Sindicato dos Jornalistas repudia . 

Maria Eduarda

"Maria Eduarda, d'Os Maias, do Eça. Foi nela que me inspirei para escolher o nome para ti". Já aqui observei que se ouvem as coisas mais espantosas e mais íntimas em qualquer lugar. Esta, escutei-a ao almoço, de uma mãe que, na mesa no restaurante atrás das minhas costas, se reunia com a família - três gerações, segundo percebi. E ainda estou para perceber por que razões aquela personagem trágica queirosiana haveria de "inspirar" o nome desta adolescente.

Intelectuais contra a resignação

"A crise não é uma fatalidade. Tem causas, responsáveis, soluções. Resulta, em primeira instância, de um sistema económico e social iníquo, gerador de crises cíclicas que só a superação do próprio sistema pode erradicar e não as panaceias do momento, ou os devastadores conflitos bélicos que, ontem como hoje, à escala planetária ou de âmbito regional, servem por vezes de saída para as crises económicas e sociais." Ler o resto e subscrever, aqui .

Avenida José Saramago

Mal foi anunciada a atribuição do Prémio Nobel, em 1998, a cidade do Porto aclamou José Saramago com emoção e abriu-lhe de par em par as portas dos seus Paços do Concelho para uma homenagem pública. Ontem, a maioria PSD-CDS que gere a Câmara Municipal negou-lhe um simples voto de pesar (a abstenção da maioria e um voto contra de um vereador do CDS têm esse significado concreto) e rejeitou a atribuição do seu nome a uma artéria portuense. E nem se deu ao trabalho de explicar! Desde já me declaro solidário com o vereador eleito pela CDU, Rui Sá, indignado e chocado com a atitude censória da Direita. Mas tamanha cegueira precisa de uma resposta. Para começar, sugiro a realização de uma iniciativa pública constituída por colóquios, exposições e ciclos de teatro e cinema, justamente denominada Avenida José Saramago.

Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto

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Vi hoje a velha Casa dos Jornalistas - a sede da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) - com a fachada e a cobertura completamente renovadas, limpas e pintadas. A sua Direcção está de parabéns.  Mas devemos estar especialmente gratos ao Francisco Duarte Mangas, o seu presidente, que porfiou pacientemente, ao longo de tantos anos, para apresentar aos intelectuais do Porto e aos cidadãos o novo rosto da Associação. E, agora, venham de lá mais actividades e encha-se a Casa de jornalistas, escritores, artistas, cidadãos!

26 vagas para Medicina. Não será demasiado?

Um número - o número 26 - ficou retido nos meus ouvidos e nos meus olhos, ameaçando-me com uma insónia valente. Vinte e seis é o número de vagas para Medicina em todo o país no próximo ano lectivo. Não será demasiado? Estremeço perante o gravíssimo risco de ocorrência súbita de um excesso de médicos.

SJ considera inaceitável encerramento do RCP

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera que, face à actuação do grupo Media Capital, os jornalistas e restantes trabalhadores ao seu serviço devem juntar esforços e recorrer a todas as formas de luta para defender os seus legítimos direitos. Leia mais aqui .    

Jornalismo, Polícia e "bairros problemáticos"

Um rapper, um oficial de polícia e um jornalista. Três olhares e três vozes para lançar um debate: "Jornalismo, Polícia e "bairros problemáticos" (As aspas já dizem tudo?...). É quarta-feira, dia 14, às 22 horas, no Chapitô, em Lisboa, numa organização do Sindicato dos Jornalistas com o apoio e a logística do Chapitô. Participam o rapper e activista LBC, o comissário Paulo Flor, da PSP, e Pedro Coelho, editor de Sociedade na SIC. A moderação está a cargo de Nuno Ramos de Almeida, da Direcção do SJ. As perguntas de lançamento do debate são estas: Como tratam os jornalistas aquilo que acontece nos bairros sociais? Conseguem ter uma visão jornalística dos acontecimentos ou tendem a agravar a discriminação que muitos dos habitantes dos bairros pobres são sujeitos? Existe um jornalismo sobre assuntos policiais ou apenas existe um jornalismo que divulga os dados filtrados por fontes policiais? Como tratar jornalisticamente os problemas da criminalidade sem tropeçar na justifi

Recomendo este livro, carago!

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O rádio de pilhas do guerrilheiro na consciência de um alferes ranger

Poupou a vida ao guerrilheiro, mas despojou-o das poucas e valiosas coisas que tinha - a liberdade, arma que tinha na mão e que era o símbolo da libertação da pátria pela qual oferecia o seu sangue e... um rádio portátil de pilhas. "No fundo, pilhei o rádio ao homem". Jaime Froufe Andrade*, antigo alferes miliciano de operações especiais (Ranger) em Moçambique, conta o caso de uma "pequena leviandade" - entre "outras patifarias, que as guerras é para o que servem..." - à volta de um rádio portátil que, sobre a sua mesa de trabalho, "materializa a sua consciência pesada". Sonha voltar um dia a Moçambique e encontrar o legítimo dono do rádio de pilhas, dar-lhe "um longo abraço" e devolver-lhe o derradeiro bem rapinado nesse dia longínquo. *Jaime Froufe Andrade é um jornalista de raro talento e um criador inquieto. Publicou, em 2008, um volume de narrativas vividas na primeira pessoa na guerra colonial - "Não Sabes Como Vais Morrer&

Nova razia no RCP

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O Grupo Media Capital anunciou hoje o encerramento do Rádio Clube Português (RCP) e pretende despedir 36 trabalhadores em condições inaceitáveis, sendo a terceira razia em menos de dois anos. Trata-se de uma medida inaceitável, como o Sindicato dos Jornalistas demonstrou, que justifica uma resposta firme por parte dos jornalistas e outros trabalhadores.

PT: um caso de soberania

Eis como Portugal vê atingida a sua soberania . ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção) 8 de Julho de 2010 ( * ) «Incumprimento de Estado – Artigos 56.° CE e 43.° CE – Livre circulação de capitais – Acções privilegiadas (‘golden shares’) do Estado português na Portugal Telecom SGPS SA – Restrições à aquisição de participações e à gestão de uma sociedade privatizada – Medida estatal» No processo C‑171/08, que tem por objecto uma acção por incumprimento nos termos do artigo 226.° CE, entrada em 21 de Abril de 2008, Comissão Europeia, representada por E. Montaguti, M. Teles Romão e P. Guerra e Andrade, na qualidade de agentes, com domicílio escolhido no Luxemburgo, demandante, contra República Portuguesa, representada por L. Inez Fernandes, na qualidade de agente, assistido por M. Gorjão Henriques, advogado, demandada, O TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Primeira Secção), composto por: A. Tizzano (relator), presidente de secção, E. Levits, M. Ilešič, M. Safjan e M. Berger, juízes

Azul-canário, noutras naves

É um jornalista que cruza escritas: texto, fotografia, desenho. Assim se apresenta o Augusto Baptista. Dotado de múltiplos talentos , está no Azul-canário , que recomendo.

Lei da Rádio: razões de preocupação

A Assembleia da República discute hoje as propostas de lei da Rádio (nova lei) e da Televisão (revisão). Deixo aqui breves notas sobre a primeira. A Lei da Rádio abre um caminho muito perigoso à concentração elevadíssima de licenças de rádio, à diminuição do pluralismo e maior desemprego de jornalistas,  em consequência d a eliminação do limite de cinco licenças de rádio no território nacional em vigor e o escandaloso alargamento para um limite de 10% das licenças de emissão local, ou seja, 34 das 340 actuais, e para metade das licenças regionais, que pode chegar à dezena. Por outras palavras:  uma mesma entidade poderá vir a ter mais de 40 rádios! Tal concentração e as possibilidades quase ilimitadas de emissões em associação e em colaboração abre caminho à perda de pluralismo, porque as emissões poderão ser feitas de forma centralizada, partilhando conteúdos em larga escala. A nova lei apresenta-se ainda como  um grave problema para o futuro profissional de muitos jornalistas,

SJ contesta propostas de lei da Rádio e da Televisão

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera que as propostas de lei da Rádio e da Televisão que amanhã vão ser debatidas na Assembleia da República aumentam a concentração e ameaçam o pluralismo. Leia mais aqui .

Tecnologia contra tecnologia

Título no JN de hoje: "Produtoras estão a rejeitar actrizes que tenham feito plásticas" Pós-título: "Parecem muito artificiais nos ecrãs de alta definição e 3D" Moral da história: Perdidas por não terem cão e perdidas por terem.

Antreus, noutras naves

"Pontos de vista de esquerda, com a preocupação de tornar melhor a vida do ser humano e de contribuir para esse combate". A descrição do blogue de António Abreu é significativa e o conteúdo é edificante. Recomendo, noutras naves.

Uma discussão tonta

O debate em torno da utilização da "acção de ouro" do Estado Português para impedir a venda da operadora Vivo continua. E um bocadinho tonto. Acabo de ver e ouvir quatro pessoas que debitam opinião sobre estes assuntos dizendo, no essencial, que: i) são obviamente contra a existência da "golden share"; ii) mas que o Governo fez bem em activar a "golden share" para defender os interesses do país; iii) que o Governo espanhol faria o mesmo se se tratasse do futuro da Telefónica; iv) que se a Portugal Telecom vendesse a Vivo, a própria PT valeria nada ou muito pouco, a não ser que não tivesse uma alternativa; e v) que a utilização daquilo a que chamam "bomba atómica" se impôs porque o núcleo duro de accionistas, apesar de conhecer os Estatutos da PT e de o primeiro-ministro ter avisado que poderia essa "arma", não deram cavaco ao primeiro-ministro sobre a mudança do seu sentido de voto. Parecendo-me isto bem claro - não por explicações mi

Portugal, a PT e a soberania nacional na Europa dos capitalistas

Voltando ao assunto da manchete do Metro , clarifico: sim, o Governo fez muito bem em usar, em nome do Estado Português, a "acção de ouro" que detém na Portugal Telecom, mesmo contra a vontade da maioria dos accionistas. Corresponde ao interesse nacional e não se pode dizer que os accionistas não conheciam essa possibilidade. E, quanto a este ponto, é claro que se trata de uma questão política antes de qualquer questão jurídica, que aliás me parece não existir. Assim como continuará a ser política a atitude que o Governo tomará após o acórdão do Tribunal Europeu de Justiça que deverá ser conhecido na próxima quinta-feira, dia 8. E mais política ainda a atitude que o Governo português tomará em face das declarações do vice-presidente da Comissão Europeia, Siim Kalas, segundo o qual a utilização da "golden share" não se compagina com a "concepção de mercado livre" (cito da Lusa) dos senhores que mandam na Europa. É aliás uma questão de soberania.

Não há manchetes inofensivas

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Não acreditem no mito da imprensa gratuita ideologicamente inofensiva. Manchetes como estas já não escondem nada. É preciso explicar?

Nem Duque nem Trono

Outra questão prática de Jornalismo: é um erro escrever - ou dizer -  "o Duque de Bragança, D. Duarte Pio" , ou "o pretendente ao trono de Portugal" . Tanto os títulos, como a nobreza, como o trono foram extintos, não existem.